domingo, 21 de setembro de 2008

Nós conversamos no caminho. Conversamos, em seguida, durante as outras horas do festival, acomodados nas cadeiras alcochoadas do Teatro da UFPE (com o único inconveniente de ter de elevar o tom da voz, já que não podíamos diminuir o volume do show). Conversamos no ensolarado dia seguinte, dessa vez à beira da piscina. Agora que o amigo foi embora, eu sinto um cansaço físico intenso. Cansaço igual ao de quem chorou copiosamente as últimas vinte e quatro horas.

Neste mês perdi trinta dias. Perdi-os enquanto lamentava os últimos quatro anos. Talvez tenha sido a propaganda eleitoral que me atingiu com a fatídica sentença: “Quatro anos é muito tempo, principalmente quando as coisas não vão bem”. Sim, quatro anos é muito tempo. E esse tempo é exageradamente precioso quando significa um quinto da vida. Principalmente quando as coisas não vão bem.

O desgosto se instalou quando percebi que nos últimos quatro anos, a única coisa verdadeira e útil que eu fiz foi ter aprendido a dirigir. O demais foi superficial e desnecessário. Ou pior, foi profundamente desnecessário. Depois desse tempo, é triste constatar que eu sou a mesma menina de dezoito anos, mas com quatro anos de infeliz experiência.

Com a psicanálise, percebi que a (des)arrumação do meu espaço é intimamente relacionada a minha (des)ordem de idéias, e as coisas vão ficando bagunçadas à medida em que a minha vida se desorganiza. Até que no tempo certo eu levanto e arrumo: o quarto e a vida.

Nos dias em que estive em retiro, vivendo o desgosto, eu não li. Não acessei o meu próprio blog. Nem freqüentei as aulas da faculdade. Tampouco fui a festas. Durante vinte e sete dias eu pensei. No vigésimo oitavo, não agüentei e chorei lágrimas de Alice no País das Maravilhas*, no colo da única pessoa que me compreenderia – e o fez. No dia seguinte, levantei e fiz o que tinha de ser feito: arrumei as idéias, o quarto e a vida. E ontem, no 30º dia do meu desgosto, reli as atas da reunião e apresentei um balanço do período ao amigo, no teatro. Estou cansada como quem chorou. Talvez ainda esteja secando as lágrimas do coração.
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*Jamile, obrigada pela metáfora.

6 comentários:

Anônimo disse...

Lhu, em quatro anos começaste dois cursos universitários (e não desististe). Conheceste pessoas bacanas que viraram tuas amigas. Ganhaste uma sobrinha. Tiveste a noção,passados quatro anos, que algumas coisas não valem a pena (e aí não vais mais repetí-las). Foste duas vezes ao show de Nando Reis (rsrs). Isso só pra citar algumas.

E essa coisa da psicanálise é verdade?? Xiiii, então também tenho arrumar a minha vida.
Beijos

Érica disse...

Bem que eu notei o que tu não estavas mais atualizando o blog. Achei que era preguiça, não sabia que estavas passando por um processo reflexivo. Mas é bom Lu, todo mundo merece passar por um momento desses na vida. Tudo melhora depois.
Beijos!
:)

Anônimo disse...

Você demorou a postar, agora vejo o motivo.
Processos internos são sempre demorados, principalemnte quando você reflete sobre tempos atrás e vê que nada mudou.
Boa a sua volta.
Bjos.

Anônimo disse...

hã?
tu tava fazendo oq?
é o q?
pelo meno, que bom q acabou!!
o grão de trigo tem q morrer pra dar muita vida.. disse uma vez "um sábio"...(hehehe, sábio? It was Jesus, babe!!!)
ae

Luanda Moura disse...

"duas vezes ao show de nando reis"... rs rs rs

O Profeta disse...

Olhos brilhantes maré tardia
Cabelos rebeldes em desalinho
Pés descalços no, frio barro
Um berlinde atirado ao caminho

Um bando de alegres pardais
Ou um domador de tempestades
Apenas um pássaro charlatão
Dividindo o pão em metades


Vem mergulhar com os Capitães do Calhau