domingo, 27 de dezembro de 2015

Finalmente, 30.

Ele precisou dobrar levemente os joelhos para passar pela porta. Usava jeans e uma camiseta azul, nitidamente curta para a sua altura, mas combinava com seus olhos. Ele não era bonito, mas eu fiquei inexplicavelmente impressionada. Da posição onde eu estava, sentada, atrás da mesa de reuniões, ele pareceu ainda maior do que era. O pouco tempo que levou para me cumprimentar, puxar a cadeira e tomar assento, foi o suficiente para eu constatar que estava diante do homem da minha vida.

Mas ele não era o homem da minha vida. Nem de longe. Ou melhor, literalmente de longe, parecia. A questão é que este foi o último erro da década dos meus vinte anos.

Em menos de um mês completarei trinta anos. Trinta. Escritos por extenso e pronunciados lentamente, como Lolita por Vladimir Nabokov. A última idade que almejei tanto alcançar quanto esses trinta, foi dez anos. Anos antes eu comecei a pensar na importância de fazer dez anos. Seria o ano da primeira comunhão; o último ano do São João na escola, que encerrar-se-ia com uma apoteótica apresentação; a primeira barreira a ser transposta na classificação etária dos filmes. Tudo poderia se resumir em: uma idade escrita com dois numerais. [fogos de artifício]

Recentemente um homem me mostrou uma mensagem de natal enviada por uma pretendente. A mensagem dizia "Feliz Natal, gosto muito, muito, muito, muito de você". Perguntei se ela é sub 25 (anos). Acertei.

Aos 20 anos as pessoas são sinceras com relação aos sentimentos. Naquela época eu acreditava que um paquera seria O Namorado, e investia sentimento no que eu ainda não entendera que seriam breves encontros. Encarava um convite para sair como um grande e promissor acontecimento, e cada vez que a crua realidade me decepcionava, parecia que o mundo ia afundar. Tinha 22 anos quando um livro mudou a minha vida: "Ele simplesmente não está afim de você". Recomendo a todas iniciantes.

Aos 25 eu já havia entendido que a vida era um jogo e conhecia as regras. Já não depositava tanta esperança em um convite para jantar. No ano seguinte, minha mensagem de ano novo foi: "Desejo que você alcance todos os seus objetivos, esses que eu sei, os que você não me disse, e também os que você nem sabe ainda, mas vão surgir no caminho. Desejo que você seja muito, muito feliz. Mil beijos. "  Melhor do que devo ter feito aos vinte mas, ainda assim, um exagero.

Aos 30, mudou tudo. De repente, o sonho que cultivei desde menina **PUF!** desapareceu. Percebi que a maior parte dos casamentos são erros. Poucos (estatisticamente eu diria 3,5% da humanidade) têm realmente sorte para encontrar a pessoa certa e sabedoria para manter o relacionamento com ela. O resto passa a vida tentando e se decepcionando, amargurado ou resignado.

Este ano recebi uma mensagem que dizia "Querida, feliz natal para você e sua família." Claro que fiquei feliz, mas não como antigamente.  Aos 20 anos, uma mensagem como essa me faria suspirar por vários dias e debater com as amigas o grau de possível envolvimento do remetente. Aos 25, eu pensaria "Talvez ele queira sair novamente." Ontem apenas olhei para o celular e pensei "Esse cara copiou e colou essa mensagem pra todo mundo. Mas foi legal ter me incluído." E respondi: "Obrigada, Feliz Natal pra vocês também."


9 comentários:

Anônimo disse...

ÊEEEEEE, RETONO MARA!

Anônimo disse...

Feliz pelos seus 30! Idade de sofisticação intelectual e deleites. Parabéns: muita sorte, perseverança e conquistas!Isso deve indicar para os leitores mais postagens? Esperamos que sim!

Anônimo disse...

Teve festa? E seu carnaval?

Anônimo disse...

Voltará a escrever ou minguaremos de saudade?

Anônimo disse...

E a próxima narrativa, quando?

Anônimo disse...

Saudades!

Anônimo disse...

Por lamento, apeguei-me a um blog cuja escritora não se importa com os leitores.

Luanda Moura Ferreira disse...

Por sorte, a escritora possui um único leitor. Por lamento, leitores ultimamente são criaturas em vias de extinção. Por sorte, este anônimo fiel terá muitos anos de vida e de leitura, além de multiplicada sua paciência para com a escritora que vos escreve.
Por lamento, não tenho tido grandes idéias ultimamente. Nem pequenas. Mas Deus está mudando a minha sorte: a previsão do tempo anunciou que haverá um sopro de inspiração logo mais. Deixem as janelas abertas.

Anônimo disse...

Continuo esperando o anúncio de novos tempos, com contação, pois sim.