quarta-feira, 11 de setembro de 2013

Ó eu aqui de novo, xaxando. Ó eu aqui de novo, para xaxar

"óia eu aqui de novo, xaxando
óia eu aqui de novo, cantando
óia eu aqui de novo, mostrando
como se deve xaxar" Luiz Gonzaga

http://www.youtube.com/watch?v=kkMOgaOz2Io

Há dez dias fui surpreendida com o aparecimento de um novo comentário no blog. Alguém opinou: "Não pensa em voltar? Abandonou apenas o blog ou toda escrita? Um belo retorno seria dizendo aos leitores o que se deu de lá para cá."

Não posso me eximir de dialogar com este leitor, certamente o único a andar por estas terras vazias, varridas pelo deserto. Estive quieta ao som do que restou, apenas rajadas do vento, mas nunca saí daqui. 

Abandonei o blog? Acho que abandonei a vida durante alguns anos. Vivi em stand by. Estava desligada de mim mesma, porém ainda presente no mundo, dava pra notar, o pequeno ponto de luz led ficou aceso permanentemente. Infelizmente as pessoas são tão presas a si mesmas e aos seus próprios conflitos que não percebem a ausência do outro, e tomam uma simples luzinha ligada por um equipamento em completo funcionamento. Certamente ninguém notou a minha ausência, a presença física foi o suficiente. É fácil entender porque geralmente os suicídios surpreendem. 

O fato é que deixei a vida passar por um período, como um filme sendo exibido na televisão ligada na sala enquanto o dono da casa cochila. De repente ele se acorda, olha só, que parte interessante, quem é esse personagem aí?, nossa, que mistério, e assiste o último bloco com atenção, os olhos vidrados. Acordei faz pouco tempo, peguei carona na cauda do cometa antes que ele passasse e, no momento, estou voando pendurada, cabelos ao vento em alta velocidade.

Um belo retorno, caro leitor, ao meu ver seria escrevendo belas coisas como acho que fiz no passado (pelo menos tentei). Mas já que para você há beleza em apenas um retorno, eis-me aqui, contando o que se deu até o presente. Espero que você esteja me achando bonita neste momento.

Por muito tempo achei que não gostava da minha profissão, pois o direito engessa e é impossível ser escritor e jurista ao mesmo tempo. Realmente, os arquitetos podem exercer sua criatividade, os operadores do direito, não. Mas estava enganada com relação às outras coisas. Descobri que não desgostava do meu ofício, antes estava era insatisfeita com a vida, e a profissão ocupa um grande espaço nela. Se hoje sou feliz sendo advogada? É certo que sim, pois encontrei uma razão para exercê-la. Gosto de ajudar as pessoas, e o que é um advogado senão alguém que resolve problemas alheios? Contudo, não estou me sentindo realizada porque encontrei esta nobre motivação. Estou satisfeita porque a felicidade voltou por si só. Um cérebro em equilíbrio encontra motivação para tudo, ao passo que para uma mente infeliz não há razão que justifique coisa alguma. 

Anos atrás a inspiração vinha sozinha. Eu começava a pensar em alguma coisa e repentinamente aparecia um texto perfeito na minha cabeça. O pensamento corria solto à minha revelia, era como se eu estivesse lendo um texto pronto. E aquilo tudo passando rápido na minha mente se tornava insuportável, eu tinha de levantar imediatamente e expelir aquela idéia em forma de frases, do contrário não dormia. Várias vezes o processo se deu no meio do sono. O texto aparecia dentro do sonho, o sonho me acordava, eu acendia a luz e dava à luz, se é que você me entende. 

Mas de repente a criatividade resolveu voar pela janela aberta. Foi passear (ou atormentar?) outra pessoa, alguém mais merecedor. Deixou-me só (ou acompanhada do meu vazio). Desde então fiquei incapacitada para a escrita, carente de boas idéias (as ruins nunca me abandonaram). Não restou alternativa senão a aposentadoria compulsória por invalidez. 

Esta noite eu deitei mas o sono não veio. Comecei a pensar numa carta dirigida a algumas pessoas que me atormentam. Quando me dei conta, a epístola desaforada desaguou, como acontecia antigamente. Levantei duas horas depois decidida a escrever. Não a tal carta, mas outra, uma endereçada a você. Espero que lhe agrade, caso você passe por aqui outra vez algum dia, desavisadamente, e leia. 

De qualquer forma, agradeço a sua visita, a sua atenção e o seu contato. Continuarei por aqui, é só chamar. A sorte começou a mudar a meu favor, de um ano pra cá, então é possível que os bons ventos tragam a inspiração de volta. Mas caso não aconteça, não exite em mandar para aqui, ao o meu sonho, uma das boas idéias que estejam sobrando em você.

Um abraço carinhoso,
Luanda

5 comentários:

Anônimo disse...

Reconheço essa inaptidão de enxergar o outro: ora me sentindo invisível, ora não dispensando aos meus o olhar necessário para percebê-los. Dentre tantos disfarces, um me engana com mais constância. Trata-se do provocado pelo riso transbordante de delicadeza, pela indispensável amabilidade e pelos modos sempre educados na fala e nos gestos. Há os que se irmanam à tristeza revestidos daqueles traços – não por finesse ou pela cadeia de certas etiquetas – mas por adotarem uma personalidade à dor que não requer solidariedade ou atenção, e assim se protegem de tal forma que blindam o mundo do contato consigo. Sem rastro de indicador de que ali coração e mente confrontam-se à semelhança do (des)afeto de Israel pela Palestina – ambos de um mesmo corpo-nação, contudo, quase a demonstrar incompatibilidade genética.
Por isso me pergunto se só as pessoas estão em estado de indiferença em relação aos pesares que não são os seus, ou, se as performances de encobrimento do que assola o íntimo da gente foram refinadas. E se as duas hipóteses co-existirem e se reforçarem?
Ainda mais desolador.
Minha primeira linha esquivou-se do sentido que pretendia. Tinha só a expressão de contentamento com o retorno, grande contentamento, na verdade. Como representante dos leitores inconformados pela abstinência a que nos relegou, alerto à alquimia que coordena seu coração* e mente em dizer-lhe que o acordo de paz não veio nem por decreto das nações (des)unidas nem por acalento dos clássicos universais, mas (suponho) pelo empenho na igualdade de direitos. Dando a Israel e a Palestina (oxalá um dia), não um gene que os distancia mas uma ponte disposta a fazer transitar as diferenças como possíveis.
Esperançosos estamos de que a felicidade que voltou a te embalar mostre-se tão maior quanto pulsante o esforço da escrita.

[*] no seu texto só foi feita alusão ao modo de stand by cerebral, já minha (a)teoria diz que este só entra em dificuldade quando em descompasso com aquele que é seu contrário e necessário.

Grande abraço!

Anônimo disse...

caramba! achei que tives se parado. Vc escreve bem demais!!!!!!

Anônimo disse...

Abandono outra vez. Escritora, recomece sua 'escritorância', por favor!

Anônimo disse...

...continua xaxando? rs

Anônimo disse...

Pena não termos mais xaxados por aqui.